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Minha Companheira, a Depressão

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Tulipas descolorindo e a depressão atacando

Eu não lembro exatamente quando a conheci. Foi algo que aconteceu naturalmente. Quando percebi ela já fazia parte da minha vida. Eu já tinha ouvido falar dela, mas não dei muita importância, pois acreditava que nunca chegaria nem perto. Era algo inconcebível para mim.

Vou tentar resumir como aconteceu. Foi mais ou menos assim: um dia, sem saber quem era ela, comecei a ouvi-la. Começamos a nos encontrar, e estes encontros foram se tornando cada vez mais frequentes. Nossa relação foi, aos poucos, se tornando mais intensa. No início era até engraçado, fazia piadas com o jeito dela, com as coisas que ela me falava. Coisas do tipo “pra que ir passear no parque num domingo de sol, se posso ficar em casa vendo televisão?”. E fui me afeiçoando a ela. Quando percebi, ela já dominava minha vida. E eu não conseguia ficar sem ela.

Era uma relação onde só eu perdia, mas eu não percebia isto. E quando comecei a perceber, ignorava. Muitas vezes chegava até a querer que ela ficasse comigo, mesmo sabendo do mal que estava me fazendo. Ou achava que este mal não era tão grande assim.

Algum amigo até podia tentar falar dela para mim, contar o que sabia ou o que estava vendo. Isso só me deixava revoltado com ele, pois eu não queria assumir publicamente este relacionamento. Eu dizia que não a conhecia.
O tempo foi passando, e cada vez mais ela foi mostrando-se possessiva. Já não queria mais que eu tivesse amigos ou mesmo falasse com familiares. Ficava o tempo todo me convencendo que ninguém me valorizava, que ninguém gostava de mim e que todos só falavam comigo por algum interesse. Chegava a dizer que se alguém realmente se importasse comigo, esta pessoa que deveria me procurar. E eu acreditava nisso, não percebendo que era eu quem tinha me afastado.

Ela também me fez acreditar que eu não tinha qualidades. Fazia-me crer que eu era velho demais, fraco demais, que eu não era inteligente, que não era bonito ou mesmo capaz de fazer qualquer coisa. Isto foi, aos poucos, tirando as cores da minha vida. Nada mais me agradava.

Isso não quer dizer que eu me trancava em casa ou que não falava com ninguém. Como eu queria esconder este relacionamento dos outros, eu tentava fingir que estava tudo bem. E isso me tirava muita energia, o pouco da energia que sobrava.

Até que um dia percebi que eu precisava fazer algo, não podia continuar assim. Tomei coragem e resolvi procurar apoio. Ela, percebendo a minha intenção, fez de tudo para me atrapalhar. Até que um dia consegui reunir forças e ir atrás de ajuda. Ela descobriu e ficou mais forte ainda. Mas aos poucos, contando com a ajuda, fui me livrando dela. Já um pouco fortalecido, comecei a perceber ela só me contava mentiras! E fui tomando as rédeas da minha vida, apesar de não ter sido fácil.

O problema é que ela não desistiu fácil. Quando eu começava a pensar que já estava livre, ela aparecia. Acho que ficava na espreita, esperando eu baixar a guarda. Aprendi então que tenho que ser mais forte e sábio que ela. Não posso dar ouvidos ou mesmo pensar que talvez ela tivesse razão. Ela não vai mudar, pelo contrário, vai cada vez me controlar mais. Não posso deixar isto aconteça.
Infelizmente, não sei se ela um dia vai desistir de mim, ela é muito obsessiva. Mas eu estou aprendendo a lidar com ela, a não deixa-la tomar conta da minha vida novamente. O que importa é que agora estou conseguindo identificar sua presença. Assim, apesar da dificuldade, tento evitar cair na conversa dela, a minha companheira, a depressão.

Atenção!

O conteúdo deste site tem caráter meramente informativo e não substitui uma consulta a um profissional da saúde.

Procure sempre um médico ou psicólogo.

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